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Vida dos jovens pós-pandemia: vacinei, e agora?

A expectativa e a esperança dos jovens com a vida pós-pandemia é grande, porém alguns ainda possuem receio. Para uma parte, surgiram novas experiências, mas o desespero e as frustrações ainda estão presentes. Isso faz com que lidar com as emoções e ter concentração se torne algo cada vez mais difícil.

Os anos de 2020 e 2021 estão sendo marcados pela pandemia de Covid-19. Cada faixa etária foi afetada de alguma maneira. Agora que a vacina chegou, parte dos brasileiros com mais de 18 anos está imunizada com a primeira dose. Diante desse cenário, os jovens podem estar se perguntando: “E agora?”. 

A expectativa dos jovens

Com expectativas variadas 210 jovens de faixa etária entre 17 e 26 anos participaram de uma pesquisa. Esta, foi realizada pelos alunos do 1º ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Parte deles pensa que será possível voltar a circular por lugares públicos com a mesma frequência que antes, por exemplo em bares, festas universitárias, carnaval, etc.

Por outro lado, nem todos pensam da mesma maneira. Mesmo com espíritos mais festeiros, alguns deles ainda se sentem inseguros para sair de casa. A expectativa dos jovens no pós-pandemia é alta, contudo, para essa parcela, a pandemia vai continuar e, por isso, ainda é arriscado se expor. 

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Festa, antes da pandemia, conta com a presença de muitos jovens / Reprodução: Debuteen (joker fotografia)

Quando interrogada a respeito da volta à vida normal, uma jovem de 19 anos diz: “Nos próximos anos, acho que vamos voltar de pouquinho em pouquinho com o avanço da vacinação, mas vida normal do jeito que era antes, se voltar, só em alguns anos”.

Palavras como “irresponsável”, “arriscado”, “perigoso” e “loucura” foram mencionadas ao serem questionados acerca da volta das festas ainda neste segundo semestre de 2021. Entretanto, tem quem pense diferente. Um estudante de 22 anos disse que “esperança é a última que morre” e que “em mais quatro meses, se continuarmos no mesmo ritmo de vacinação e mantivermos os cuidados, tudo voltará ao normal”.

“Frustração” e “desespero”

A volta ao normal é um desejo quase desesperador, principalmente aos jovens que estão perdendo as melhores fases e experiências da vida. A frustração é evidente em comentários como: “Parece que estou jogando um/dois anos da minha vida fora”, “Senti que perdi a melhor fase da minha vida”.

Outros ainda dizem: “Me senti frustrada, pois me formei na faculdade e não tive a colação de grau que, pra mim, era um sonho”, “Foi realmente frustrante ter minha formatura do ensino médio por drive thru, sem poder comemorar direito ou até mesmo dar um simples abraço nos meus professores” e “Me senti muito impotente e frustrada porque, apesar de querer muito que fosse de outra forma, não existia possibilidade de mudança”.

Formatura, que durante a pandemia aconteceu em esquema de drive-in / Reprodução: divulgação

Jovens “pausaram” suas vidas. Pequenos hábitos que os faziam ter vontade de sair de casa foram esquecidos e a vida se tornou um exercício imaginativo diário de como tudo vai ser quando existir de novo o “normal”.

“Acredito que o uso da máscara e do álcool em gel não vão deixar de existir em alguns locais, os aeroportos vão ter uma fiscalização sanitária maior e acredito que a maioria dos eventos passem a ser feitos em locais abertos. Acho que todo mundo vai ter que aprender a lidar com essa volta, com as interações sociais, com a insegurança e o medo que ainda vamos ter por conta do trauma da pandemia” diz jovem do sexo masculino de 21 anos.

Concentração cada vez mais difícil

Em entrevista, Gianluca Palermo, conhecido como DJ GP da ZL e estudante universitário, relata que teve muitas frustrações com o ensino a distância: “Para mim, a vivência de estar em sala de aula é outra coisa […] Eu tenho muitos problemas para me concentrar em casa, ficar olhando para a tela do computador… na aula, pelo menos, você é meio forçado a prestar atenção”. 

Foto do DJ
DJ GP da ZL em seu ‘studio’ durante a quarentena. / Reprodução: Acervo Pessoal

Por outro lado, a pandemia ajudou muito na carreira dele. O DJ mencionou que, por ter ficado bastante tempo em casa durante a quarentena, conseguiu se dedicar às suas músicas e intensificar a produção musical: “Hoje meu sustento é praticamente todo disso”.

Gustavo Henrique, que está no Ensino Médio, expõe seu descontentamento diante do ensino remoto: “Muita gente deixou de amadurecer, muita gente deixou de ter essa cobrança – de cair a ficha que o vestibular está chegando – , com certeza estamos bem decepcionados”.

As opiniões são divididas

“É muito dividido. Existem os DJs universitários e os DJs de funk. Já os universitários estão muito ansiosos com a volta das festas universitárias, mas os de funk já até voltaram, porque eles dependem disso”, acrescenta o artista.

Gianluca diz que seus amigos estão muito ansiosos para a volta dos eventos. A expectativa dos jovens na vida pós-pandemia, na sua visão cresceu com o aumento da vacinação. “As pessoas próximas a mim, pelo menos a imensa maioria, confiam muito na eficácia das vacinas”- disse ele.

O DJ diz que, se todos tomarem a primeira e segunda dose da vacina, esperarem os 15 dias e seguirem os protocolos de segurança, não vê motivos para que as aglomerações não voltem a acontecer. “É importante também que os eventos cobrem comprovante de vacinação e teste negativo de Covid-19”, diz o artista. 

Novas experiências

Como consequência do cenário de isolamento e de estudo remoto, o entrevistado diz que a pandemia lhe fez experimentar coisas novas, assim como o DJ GP da ZL. Dentre elas está a criação de uma loja virtual de material esportivo, que o fez pensar sobre seu futuro: “Eu sempre tive na minha cabeça que eu queria trabalhar com jornalismo, com o esporte. Isso sempre esteve claro para mim. Mas, com a pandemia eu tive outras experiências; criei a minha loja e abri espaço para conhecer outras áreas e fazer coisas que, se o mundo estivesse normal, eu não sei se eu faria. […] Hoje estou balançado, não sei se vou para o jornalismo, marketing ou administração”. 

Gustavo foi questionado sobre a opinião de seus amigos perante o cenário pandêmico e sobre a volta de festas e eventos: “Eu acho que a gente vê nas redes sociais tudo normal, como se a pandemia não existisse, […] acho que é até sair a vacina para todo mundo e conseguirem (as autoridades) liberar eventos maiores, com bastante gente. Eu acho que muita gente não vai conseguir ir (por medo). As festas de faculdade estão voltando, alguns compram os ingressos, mas na incerteza, porque nós não sabemos se vai estar tudo liberado no final do ano. Não dá para colocar a grana e a expectativa em algo incerto”.

Chegamos no limite, mas ainda não acabou

A psicanalista Alessandra Mazzotta fala sobre a expectativa dos jovens no pós-pandemia e o perigo de as pessoas chegarem nos seus limites emocionais, tendo em vista que ainda não é o momento de relaxar as medidas de isolamento: “Como as pessoas ficaram muito tempo em casa, algumas ficaram desesperadas para sair […] Porque agora vai abrir tudo, né? Os bares, por exemplo, as hospedagens. Muitos lugares não têm vagas, estão lotados já tem alguns meses”.

A profissional diz que ainda existe quem não se sinta confortável com a volta da vida normal. “As pessoas vão criando expectativas, que nós chamamos de histórias mentais. Elas geram medo, ansiedade, que têm a ver com alguns perigos que ela pode passar ao sair de casa”. Esse grupo ainda, em sua maioria, prefere o ensino a distância e pode apresentar, ao chegar nos lugares, crises de ansiedade e síndrome do pânico. 

Caroline Rossini, uma brasileira de 19 anos residente da Flórida, nos Estados Unidos, conta que lá houve baixa dos casos de coronavírus, começaram a se habituar com o “novo normal” , regredindo por conta de uma nova variante, sendo obrigados a voltar com os antigos protocolos contra a doença.

“Refém é como eu me sinto sobre isso. Você teve sua sensação de liberdade, só que você está sempre refém do vírus […] eu estou aqui há um ano e pouco, mantida refém em outro país, sem poder ver minha família […]. A sensação de liberdade que a gente estava tendo aqui, o vírus simplesmente falou ‘não’. Ele tirou tudo isso, e a gente foi feito refém de novo”, contou.

Pessoas que voltam a usar máscara nas ruas dos Estados Unidos, devido à nova variante. / Reprodução: REUTERS/Mario Anzuoni/File Photo

Os cuidados ainda são necessários

Caroline adverte sobre os cuidados necessários em relação à volta das festas, das aulas e tudo aquilo que foi perdido durante a pandemia. Ela deu muita ênfase na atenção redobrada que as pessoas mais jovens devem ter, já que os mesmos mostram mais otimismo sobre o pós-pandemia. “Vocês têm que seguir as regras de todo jeito que vocês puderem. As coisas que os médicos falam não é brincadeira. Eu estou falando por experiência que a Covid-19 é algo que ninguém quer passar, é um negócio muito ruim”. 

Estes diferentes pontos de vista, apontam para certa esperança sobre a chegada da tão desejada fase pós-pandêmica. A expectativa dos jovens no pós-pandemia não são um consenso entre eles, o grupo está dividido. Porém, esses diferentes pontos de vista, transparecem a importância dos cuidados que precisamos ter com o vírus em uma eventual retomada dos encontros. “As medidas de proteção e de cuidado não são em vão. Eu sei que é difícil ficar longe da família e dos amigos, mas fiquem, isso não vai durar pra sempre, então quanto mais vocês fizerem, mais rápido isso vai acabar”, diz Caroline.

Saiba mais em:

*ERRATA: A psicanalista Alessandra Mazzotta foi identificada erroneamente como psiquiatra. Ela trabalha como psicanalista com jovens no Espaço Adolescer.

* Por: Amanda Drager, Gabriel Godois, Isabelle Breda, José Guilherme Romero, Lucas Raza, Mariana Baiter, Sofia Valim.