Logo do Tinder
Comportamento Tecnologia

Amor virtual na pandemia viral

Parece incomum a ideia de dar um match no Tinder em meio a uma pandemia, mas não é. 

Por Gustavo Domingues, Júlia Mei, Lucas Duarte, Luiz Felipe Nunes, Luíza Fernandes, Pedro Pilon

Os tempos de pandemia têm nos obrigado a ser criativos na hora de nos divertir e relacionar com as outras pessoas. Por sorte, a tecnologia já estava entre nós e graças a ela o isolamento social se tornou menos solitário. Sim, a ideia de iniciar um relacionamento a distância já passou pela cabeça de muita gente. E há uma gama de apps de namoro que possibilitam conhecer pessoas novas sem precisar sair de casa. 

A solidão da quarentena quebrou muitos preconceitos e trouxe mais pessoas para a experiência muitas vezes surpreendente dos apps de relacionamento. Segundo uma pesquisa da Revista Veja de maio deste ano, houve um aumento de 16% no número de conversas que rodam em apps como Tinder e Bumble, e elas têm durado 25% mais em tempos de isolamento.

“Fiz o Tinder porque estava sem nada pra fazer e pensei: vamo ver né, vai que…”, diz Paula, que teve seu sobrenome ocultado por preferência pessoal. A psicopedagoga de 29 anos é daquelas que instala e desinstala apps de namoro e até já arranjou namorado com matchs anteriores, mas voltou a usar o Tinder e encontrou um novo boy na quarentena. Desta vez, no meio do caos pandêmico, encontrou um amor para chamar de seu. 

A Factual 900 quis saber de Paula o que mudou na hora de se relacionar e, por que não, selecionar seus parceiros. Mudou muita coisa, como basicamente tudo neste mundo de pandemia.

Tinder – Reprodução

Começamos a namorar na quarentena e a gente se encontrou para dar voltas de carro. Fomos no drive-in. Comemos no drive-thru do McDonald’s 38 vezes”, brinca a jovem. As 38 idas à lanchonete não significa que o relacionamento veio para ficar. 

Ela diz estar com medo, por tudo o que já aconteceu entre eles, algo que passou desde o contato físico do primeiro encontro até pensar em como vai ser a relação no pós-pandemia. “Porque até agora é só a gente que faz as coisas, só nós dois. Nem meu grupo de amigos nem o dele conhecem um ao outro. Então eu realmente não sei como vai ser.”

Representação de um match em app de relacionamento

Segundo a psicóloga Júlia Mota – formada pela PUC-SP e estudante de cursos sobre relacionamentos amorosos no Instituto Sedes Sapientiae – existem várias formas de se comportar durante uma pandemia e cada pessoa reage de um jeito. Mas os fatores externos, sobretudo ficar de quarentena por seis meses, influenciam como estamos vendo e encarando os relacionamentos amorosos. 

“A saúde mental tem vários fatores de influência, e o convívio social é um deles. O isolamento coloca um empecilho. Daí vem a possibilidade de fazer esse contato de maneiras diferentes, como videochamada, mensagens; surgem algumas possibilidades, mesmo pra quem é tímido”, explica Júlia.

E, nesse contexto, é necessário reinventar as saídas de casal, e o contato no meio de uma pandemia e para Paula, não foi diferente: “No fim de semana a gente se vê pelo menos um dia, geralmente é sábado e ficamos bastante tempo junto. A gente não se vê sexta, pois é rodízio dele e no domingo também não pois é difícil pra ele voltar pra cá e ir. […] A gente passeia de carro e sai para comer. É isso que a gente faz.”

Casal “se vendo” mesmo à distância

A psicóloga Viviane Papis, que está aplicando para Pós-Graduação com foco em Psicodrama e também é formada pela PUC-SP, aconselha a encarar cada relacionamento a partir de sua singularidade, independente se construído dentro ou fora de uma pandemia viral. E mesmo uma relação iniciada de forma online é recheada de verdades. “Não podemos acabar em uma profecia auto-realizadora de que o relacionamento online está fadado ao fracasso”, diz.

“Temos de ter o cuidado ao estudar um fenômeno novo para não colocá-lo em uma caixinha de completamente estranho, abarcando como se fosse algo totalmente diferente de tudo que a gente já viu”, acrescenta Viviane. A psicóloga lembra que o relacionamento online possui diferenças em relação a um relacionamento tradicional, mas tem várias semelhanças também.”

O advogado Alberto Hezel Jr é a prova viva de que relacionamentos não tem data nem hora para começar, principalmente quando online: aos 59 anos, divorciado, com um filho de 18 anos, ele é a prova viva de que usar e abusar dos apps de namoro é para qualquer idade: “Eu me impressionei muito com a formação cultural dela [sua parceira], uma pessoa muito madura, que tem os mesmos gostos que eu e também procurava com a mesma seriedade que eu um companheiro. Ela é muito bonita, evidente que isso me agradou, mas foi algo interno, mais de alma mesmo”, romantiza.

E, segundo Alberto, a relação em tempos pandêmicos anda muito bem. “Nossas conversas começaram pelo aplicativo, depois foram para o telefone e daí Skype. E temos mantido conversas deliciosas. Quando estamos juntos, começamos a conversar na mesa do café da manhã e paramos só às três da tarde”, comenta. “A gente não é mais criança, né, então tem muita história pra contar.”