Tatuagens: Otzi é a múmia mais antiga encontrada com marcas no corpo
Comportamento

A história das tatuagens

De uma múmia da Era do Gelo até os dias atuais, as tatuagens revelam parte da evolução da sociedade humana

Não é nada incomum encontrar pessoas que possuem uma ou mais tatuagens em seus corpos. Símbolos, nomes, frases e diversas outras coisas são marcados de forma quase permanente nos tatuados. Mas afinal, como se deu essa popularização das tatuagens?

Afinal, há 50 anos a tatuagem pertencia a um grupo restrito e em muitos lugares do mundo existem diversas restrições à tatuagem. Na China, as tatuagens são proibidas de aparecer na TV; no Japão as pessoas tatuadas, por vezes, não podem frequentar piscinas ou spas. Porém essas marcas corporais estão com a humanidade há bastante tempo.

Comum principalmente entre os jovens, as tatuagens estão definitivamente quebrando tabus.

Origem das tatuagens

O antropólogo de tatuagens, Lars Krutak, comentou em uma série de documentários do Netflix, que acredita que não houve um evento ou marco inicial, nem mesmo um local exato de origem para as marcações corporais. Para ele esse advento foi algo independente em muitos locais e culturas diferentes. Essa entrevista está contida no episódio oito da primeira temporada da série em questão, chamado justamente de “Tatuagens”.

Na arqueologia, podemos citar a múmia “Ötzi” como uma importante precursora das tatuagens. Essa ossada congelada foi encontrada nos Alpes Italianos e possuía mais de 60 tatuagens sobre si, sendo que provavelmente o Homem de Gelo (como é chamado também) viveu há mais de 5.000 anos.

Múmia Ötzi, bastante conservada até hoje, o registro mais antigo de tatuagens que se possui.

A difusão desse processo de registro sob a pele era muito comum, portanto, em tribos indígenas, pelos mais variados motivos: religião, hierarquia social(positiva ou negativa), arte e poder ritualístico.

As ferramentas usadas para tatuar eram bastante simples, por isso os desenhos eram bem básicos e sempre buscavam representar o ambiente e a natureza, por isso, plantas, animais e astros eram comumente dispostos. Já o padrão estético era bem geométrico.

Idade Antiga e Idade Média

No século V a.C., os antigos gregos e romanos utilizavam como forma de punição contra criminosos, escravos e prisioneiros de guerra. Esses povos desprezavam as marcações decorativas pois acreditavam na pureza da forma humana, por isso às reservavam apenas para condenados.

Porém, mais tarde, incentivados principalmente pelos bretões, habitantes da Bretanha, na França, que tatuavam insígnias de honra, os romanos começaram a mudar sua visão com relação a esses desenhos. Assim, desenvolveram o costume de tatuar soldados e fabricantes de armas.

Durante as cruzadas dos séculos XI e XII, as tatuagens foram utilizadas para identificar os soldados de Jerusalém. Aqueles que tivessem a marcação de uma cruz em suas peles teriam um enterro verdadeiramente cristão caso morressem em batalhas.

Nome e rejeição à cultura da tatuagem

Em Levítico 19:28, é dito que “Não farei marcas sobre vós”. Por conta do Ocidente seguir bastante os princípios bíblicos, durante a Idade Média as tatuagens estiveram bastante sumidas de boa parte do mundo. A profanação do corpo, como era vista, era completamente desincentivada e até punida.

Porém, quando o explorador britânico James Cook aportou no Taiti, em 1769,ele registrou as práticas de tatuagem do povo local. Segundo o que consta no livro de Marcelo Galega Tattoo Your Soul – A Dor e o Prazer de Ser Você Mesmo, a palavra usada por eles para esse ato artístico era “Tatau”.

Vale pontuar que o livro de Galega foi escrito para explicar a sua vida profissional sendo um empresário tatuado e a história da tatuagem também.

A partir dessa empreitada de Cook, houve uma disseminação em todo mundo dessa prática. Hoje no mundo inteiro temos nomes muito parecidos com “tatau”. Aqui no Brasil, tatuagem, em inglês, tattoo.

Porém, a princípio a tentativa foi de apagar essas tatuagens da História. Diversos colonizadores tomaram conta do Taiti e baniram o ato de tatuar. Seguindo o raciocínio da demonização das tatuagens, podemos citar o Japão, onde por séculos a tatuagem era usada para marcar criminosos. Segundo o mestre de tatuagens japonês Horiyoshi III, isso perdurou até o final do Século XVII.

Mas, com o aumento das tatuagens decorativas no país, os criminosos começaram a cobrir as marcas da prisão com outros desenhos artísticos. Um século depois, no país asiático, as marcas corporais se tornaram comuns para tatuar heróis, se tornando um símbolo de poder.

Mudanças de paradigmas

Na parte ocidental, as tatuagens começaram a ser mais aceitas quando marinheiros passaram a tatuar em seus corpos símbolos patrióticos ou iniciais de nomes. Diversas conquistas e patentes também eram grafadas em alguns casos. Como, por exemplo, a andorinha. Para cada 5000 milhas navegadas, uma andorinha era registrada.

Quando foi lançada a tatuagem a maquina, em 1891, pelo inventor americano Samuel O’Reilly , surgiu junto a chamada “Indústria da Tatuagem”. Segundo o artigo de Marcos Wilson Farias Marques, do Centro Universitário de Brasília, Samuel teria patenteado a máquina que havia sido pensada por Thomas Edison.

Destinado, principalmente, aos artistas de circo a princípio, logo isso despertou a imaginação e a curiosidade popular. Grupos de contracultura e veteranos de Guerra passaram a se utilizar também das tatuagens. Somente em meados do Século XX que as tatuagens ganharam também sentido mais simples, como simplesmente reforço da personalidade, crenças pessoais em todos os âmbitos e valor estético.

Hoje, os sentidos continuam vários e, apesar de em muitos lugares ainda existir muitos preconceitos, esse tabu tem sido quebrado. Como marco importante e recente no Brasil, a Polícia Militar de São Paulo, alterou o regulamento interno que permitia o uso de tatuagens apenas “em pequenas dimensões, sendo vedado cobrir regiões ou membros do corpo em sua totalidade”, como pontuava o regimento. A mudança foi publicada no dia 3 de outubro de 2019.

Apesar de um longo caminho a ser percorrido para combater os preconceitos, o progresso tem tomado a frente e conduzido as sociedades para um caminho de tolerância e respeito à diversidade.