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Breque dos APPs: entenda as reivindicações dos entregadores

No dia 1 de julho de 2020, entregadores de aplicativos organizaram uma greve com a paralisação dos serviços de entrega que afetou quase todos os estados brasileiros. Os líderes desse movimento são os entregadores antifascistas, que buscam melhores condições de trabalho, salariais e principalmente um amparo por parte das empresas como Rappi, Uber Eats, IFood e Loggi.

A porta-voz dos entregadores antifascistas, Luciana Kasai, explica que nos últimos dois anos o funcionamento dos aplicativos mudou em relação a taxas e ao modus operandi. Em outras palavras, essa mudança acabou prejudicando cada vez mais o trabalho dos motoboys. Ela explicou que, em nome do movimento, “os antifascistas cooperaram com o Sindicato dos Motoboys de São Paulo, mesmo divergindo em muitos aspectos”. O presidente interino do sindicato, Gerson Cunha, afirmou a união entre as partes do movimento.

Segundo a porta-voz, o motim ganhou notoriedade e relevância com o apoio do “breque dos apps”. “A maior conquista que nós tivemos com o breque, que teve muita visibilidade, foi a adesão popular. Já que, as pessoas não sabiam como era a nossa situação, o quão precarizada ela era e assim passaram a olhar para isso com outros olhos”, afirma Kasai.

A pandemia do coronavírus impulsionou os entregadores a realizar a greve. Kasai alegou que os aplicativos não forneciam o apoio devido para os trabalhadores, isto é, deixando-os encarregados de se cuidarem. “Somente era disponibilizado um posto para a higienização das mochilas, sem propiciar transporte para o local e sem prover uma ajuda de custo. Ademais, não forneceram máscaras e álcool em gel, como foi solicitado”.

Uberização e precarização do trabalho

As condições precarizadas privam os trabalhadores do acesso aos direitos trabalhistas. “O buraco é bem mais embaixo. O que a gente quer de verdade é que nosso trabalho seja visto como uma profissão. Que a gente tenha as mesmas garantias que outros serviços oferecem”, afirma o entregador Warley Gomes (22).

Kasai possui outra visão a respeito disso. Ela acha que deveria haver uma regulamentação, só que isso não partiria dos aplicativos e sim, do Governo Federal. Na opinião dela, “o CLT não seria o melhor cenário por ser muito fechado, então seria melhor criar uma outra alternativa com um modelo semelhante ao da nuvem, mas com um mínimo de horas trabalhadas combinadas previamente”. Isso daria um ganho mínimo aos entregadores, além de recursos e acesso a direitos básicos.

O economista da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base, Frederico Barreto afirma que “existe uma oferta muito grande de mão de obra que atendem os serviços de app. Não acredito que as paralisações na escala que aconteceram possam ter impactado o serviço de entrega de forma severa. A eficácia do breque dos aplicativos serviu mais para que a categoria evidenciasse a precarização das relações trabalhistas. Mas o sistema certamente soube absorver esses impactos sem grandes prejuízos para os estabelecimentos e para os apps”. [Leia entrevista com Barreto aqui].

O CEO da Rappi, Sérgio Saraiva, participou de uma live promovida pelo Citibank no dia 26 de agosto. Nessa live ele firmou que os lucros durante a pandemia praticamente triplicaram e, “caso haja algum imprevisto, a empresa teria caixa suficiente para lidar com a adversidade sem muitos problemas”.

>> Cobertura estendida: ouça abaixo o podcast da Factual900 com consumidores, sobre o “breque dos APPs”.