Entre os prédios de São Paulo: prisão e liberdade
Por Beatriz Zolin, Maê Montagno, Maria Eduarda R. Arruda e Vinícius Buono
Conhecidos pelas oportunidades e realizações de cidade grande, os prédios de São Paulo também foram palco de momentos dolorosos e significativos na história do país, tal como o Massacre do Carandiru e as torturas imperdóaveis na Ditadura Militar. Para que ninguém se esqueça de tais horrores, ambientes simbólicos foram construídos em homenagem. É o caso do Memorial da Resistência e do Parque da Juventude, locais que transformaram a memória da violência em esperança e educação.
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PARQUE DA JUVENTUDE
As pessoas que hoje passam na linha azul do metrô de São Paulo, sentido Tucuruvi, na Zona Norte, se deparam com a estação Carandiru. O nome atual está associado apenas ao bairro e à memória remanescente do presídio, uma enorme e distópica construção de concreto que ocupava o espaço aberto e verdejante do que é, atualmente, o Parque da Juventude.
A própria cadeia nem sempre foi do jeito que ocupa o imaginário da sociedade paulistana (graças, em grande parte, ao livro Carandiru, do doutor Dráuzio Varela, que gerou filme homônimo). Inaugurada na década de 1920, com capacidade para 1200 detentos, era considerada padrão de excelência e até um dos cartões postais da cidade.
Porém, a partir da década de 1940, a situação começou a mudar. A criminalidade disparou e a lotação máxima do presídio foi logo ultrapassada. Foi construído um anexo, chamado apenas de Casa de Detenção, ampliando a capacidade para 3.250 detentos. Mas aí se iniciaram as famosas rebeliões e brigas que assolaram a unidade até seu fechamento.
Dez anos antes, ocorreu o triste episódio conhecido como Massacre do Carandiru. Para acabar com a rebelião de 2 de outubro de 1992 — “a brecha que o sistema queria” (Racionais MC) — a polícia entrou usando força letal e o resultado foi 111 mortos num terrível banho de sangue que marcaria para sempre a história de São Paulo e até do Brasil. O médico Dráuzio Varella, voluntário da extinto presídio, escreveu um livro que relata a história dos presos sobreviventes.
O caso chegou a ser julgado no Tribunal de Justiça (TJ), mas não teve desfecho. Alguns policiais foram condenados, mas o relator alegou “cumprimento de hierarquia”. As penas foram anuladas pelo TJ-SP. O Carandiru foi desativado e demolido em 2002.
Em seu lugar, o governo inaugurou em 2003 o Parque da Juventude, onde ficam também o prédio da Biblioteca de São Paulo e duas escolas técnicas, as Etecs. Próximo ao projeto abandonado do que seria uma expansão da cadeia, o Carandiru II, floresceu a liberdade entre as árvores do parque.
Chamado Dom Paulo Evaristo Arns em homenagem ao antigo cardeal e bispo-emérito de São Paulo, o projeto, concluído em 2007, foi dividido em três áreas, ao longo de seus 240 mil m²: esportiva, com quadras, pistas de cooper, skate e patins; central, com caminhos e passarelas tradicionais do conceito de parque, e institucional, onde se localizam as Etecs e a Biblioteca. Está aberto todos os dias, das seis horas da manhã às sete da noite. Existem atrações e oficinas dedicadas ao público.
Apesar de ter recebido críticas por não ter levado em conta o planejamento urbano e a especulação imobiliária, o antigo prédio de São Paulo que hoje deu lugar ao Parque da Juventude trouxe um frescor de natureza à selva de pedra e é um marco da Zona Norte da cidade.
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PRÉDIOS DE SÃO PAULO: MEMORIAL DA RESISTÊNCIA
Outro caso importante é o Memorial da Resistência, que abrigava a sede do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) durante o regime militar. Fundado em 1924, foi utilizado desde o governo de Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, até a ditadura de 1964 como centro de repressão e, principalmente, palco para atrocidades contra a oposição. Em meados de 1983, ao restabelecer a democracia, o órgão geral foi extinto.
Após a desocupação política desse prédio de São Paulo, o que atualmente é o Museu passou por várias transformações. Em 1997, o órgão Defesa do Consumidor (Decon) liderou uma revitalização do local e assim o transformou no que seria o Museu da Liberdade até meados de 2000. Em 2004, a direção sofreu uma mudança e foi vinculada à Associação Pinacoteca Arte e Cultura (Apac). Com a gestão da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e, posteriormente, com o Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos, houve a criação do projeto que seria, de fato, o Memorial da Resistência.
No dia 24 de janeiro de 2009, o museu foi consolidado no centro de São Paulo ao lado da Pinacoteca. Além das memórias e relatos acerca do regime militar, o edifício traz programações gratuitas variadas todos os dias – exceto às terças-feiras – das 9 às 17 horas.
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